sexta-feira, 4 de outubro de 2013
Estado pode beneficiar até 2,2 mil toneladas de pescado por ano
Peixes com baixo valor comercial, como sardinhas, caicó e principalmente o peixe-voador, podem virar uma fonte de renda mais lucrativa para pescadores quando processados e transformados em produtos derivados, como filé, linguiça, hambúrguer e até presunto. Um projeto do Sebrae no Rio Grande do Norte e da Universidade Federal do Rio Grande do Norte pretende tornar isso uma realidade, principalmente em Caiçara do Norte, que fica a 149 quilômetros de Natal no sentindo litoral Norte, e demais municípios da região com tradição em pesca artesanal. A ideia é processar as espécies e fabricar produtos com alto valor agregado.
Denominada Projeto Voador, a iniciativa vai estimular a produção e melhorar a manipulação, armazenamento e comercialização dessas espécies, que normalmente são pouco apreciadas e, às vezes, até descartadas pelos pescadores. De acordo com estimativas da Escola Agrícola de Jundiaí (EAJ), o Rio Grande do Norte tem potencial para beneficiar as 2,2 mil toneladas que são pescadas a cada ano e aproveitar a ova do peixe-voador como matéria-prima para fabricação de um tipo de caviar.
O projeto foi lançado oficialmente nesta semana em Caiçara do Norte e atraiu representantes de colônias de pescadores do lugar. Dos 6 mil habitantes do municípios, 20% estão diretamente ligados à atividade pesqueira. “Há uma possibilidade enorme de geração de emprego e renda com o processamento do peixe-voador. Queremos com esse projeto abrir os canais de comercialização e dar novos rumos a essa cadeia produtiva, que se encontra desorganizada. Isso impede que os pequenos tenham mais lucratividade”, explica o diretor-técnico do Sebrae-RN, João Hélio Cavalcanti, que participou do lançamento do projeto.
O encontro reuniu mais de 70 pescadores interessados no projeto, que pode se tornar a segunda experiência bem sucedida nessa área com o apoio do Sebrae. Em Apodi, aquicultores beneficiam a tilápia e comercializam em loja própria. Os produtos agora integram a merenda escolar da cidade e municípios vizinhos.
Caiçara do Norte é famosa quando o assunto é pesca. Não apenas devido à espécies nobres, como o atum, o dourado e o agulhão vela, mas também pela presença do peixe-voador que é capturado em alto mar ao longo de todo ano. A região é uma das poucas do País a explorar a pesca dessa espécie, que é tradicionalmente vendida desidratada e salgada. Somente no ano passado foram pescadas 800 toneladas do peixe-voador na região. Apesar do número expressivo, os valores comerciais não acompanham a alta. Cada peixe está sendo vendido na cidade a preço de R$ 0,12.
Parte integrante das atividades dos projetos do Sebrae de Maricultura e Território da Cidadania no Mato Grande, o Projeto Voador quer reverter esse quadro e aumentar o retorno financeiro oriundo da pesca desse peixe. As ações do projeto envolvem capacitação para unir os pescadores em cooperativas e associações e fornecer informações técnicas sobre padrões de higiene, manipulação segura e acondicionamento do pescado. Mas a principal meta do projeto é implantar uma unidade fabril de beneficiamento do peixe-voador no período de safra (entre abril e junho) e demais espécies na entressafra.
Nos meses de alta, quando há uma grande oferta, cada quilo do voador é vendido por apenas R$0,39. “O peixe-voador vendido inteiro não tem muito valor. Mas os derivados têm uma aceitação enorme do mercado e estamos testando novos usos e novos produtos beneficiados”, enfatiza o professor da Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias da EAJ/UFRN, Dr. Rodrigo Carvalho.
De cada quilo da espécie, é possível extrair 300 gramas de carne. Segundo ele, pesquisadores do Departamento de Nutrição da UFRN estudam a aplicabilidade da carne do peixe-voador separada mecanicamente. “Essa carne lavada com bicarbonato de sódio é propícia para produção de kani kama, por exemplo. Os alunos de nutrição também estão analisando a proporção ideal para produção de bolinhos, almôndegas e até presunto a partir da carne do peixe-voador”.
Caviar
O anúncio do projeto deu um novo ânimo a pescadores como João Maria Gualberto, que há quase 30 anos domina a habilidade de pescar o peixe-voador. Ele acorda ainda de madrugada, por volta das 2h, e parte para o alto mar. É lá onde usa a linha ou as armadilhas, denominada localmente como jererê, para capturar uma das poucas espécies marinhas naturalmente equipadas para planar sobre as águas. “Quando a lagosta entra no período de defeso, a pesca se volta toda para o ‘avoador’ (sic). Chego a pescar uns 100 quilos por dia”.
Essa quantidade, no entanto, não se reverte em bom faturamento, já que praticamente toda a produção fica com os atravessadores – os donos de ranchos – que ditam o valor do pescado, normalmente, para baixo. Além do peixe, outro item complementa a renda dos pescadores, a ova do voador. “Colocamos uma palha de coqueiro na água enquanto estamos pescando e o peixe faz a desova. A cada duas horas, recolhemos o que foi depositado”. A ova é bastante valorizada, bem mais que o peixe, e apreciada internacionalmente. Na cozinha oriental, é utilizada como um tipo de caviar, o ‘tobiko’.
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